Uma cápsula do tempo para nossa Congregação Cristã no Brasil

por **┼EKhristos** 26th outubro 2012, 7:30 pm

Imaginem o evangelista Francescon, na cidade de Santo Antônio da Platina, batizando Felício Mascaro, o primeiro cidadão brasileiro convertido ao pentecostalismo, depois imaginem Francescon colocando todos os seus desejos, suas interpretações bíblicas, numa cápsula do tempo destinada aos crentes, para serem abertas 100 anos depois.

Lógico, isso não aconteceu, poderia, mas não foi assim, esse corajoso servo enfrentou juras de morte, dedicando sua vida a evangelizar almas. Muitos outros dedicaram-se a pregar o evangelho, todos eles tiveram sua experiência única com Deus, que viria a justificar os meios pelos quais eles batalhavam, os motivos de suas interpretações.

Um cápsula do tempo, com todos as interpretações de um homem, poderia causar um grande impacto no futuro. Certamente que os escritos, tornaram-se simbolicamente, cápsulas abertas para todos os povos, desde que profetas e apóstolos se foram, homens valiosos, cada um a seu tempo, tentaram determinar a profundidade de seu escritos, com isso marcaram suas épocas, sua ideias influenciaram a muitos, para o bem (ou mal) com queiram alguns.

Lendo a história da interpretação cristã da Bíblia, escrita (para uma aula) por Augustos Nicodemos Lopes, uma das muitas considerações existentes, temos um valioso tesouro, que revela os modelos de interpretação, da Escola de Alexandria, Antioquia, e dos Pais Latinos.

A primeira mais alegórica está relacionada com a cidade de Alexandria. A outra, que surge depois em Antioquia em reação à primeira, é mais voltada para o sentido literal do texto bíblico. Os problemas que enfrentaram de certa forma anteciparam as questões de interpretação, que a Igreja iria encarar através da sua história, até o dia de hoje...

Um conceito que chama atenção, é segundo Platão, num resumo, conceitos e verdades espirituais, próprios do “mundo das ideias”, são representados por alegorias. Origines, é considerado o homem mais erudito de sua época, sua abordagem da Escritura pode se resumir em alguns pontos essenciais: A melhor maneira de se entender a Bíblia é através da perspectiva platônica. A Bíblia contém segredos que somente a mente espiritual pode compreender. O sentido literal é valioso, mas algumas vezes obscurece o sentido primário, que é o espiritual. O literal é para iniciantes, mas o espiritual é para os maduros na fé. Se Deus é autor da própria Bíblia, ela deve ter um sentido mais profundo. A interpretação literal é própria dos judeus e não dos cristãos. A esses foi revelado o sentido mais profundo das escrituras, que havia sido ocultado dos judeus incrédulos. Há três níveis de sentido nas Escrituras, correspondentes às três dimensões da personalidade humana:

1) Carne – a interpretação literal e óbvia corresponde a carne ou ao corpo humano, que é visível e evidente a todos que o veem. Esse tipo de interpretação é para os indoutos.

2) Alma – aqueles que já fizeram algum progresso na vida cristã começam a discernir sentidos mais além do óbvio.

3) Espírito – a interpretação alegórica, própria dos que são espirituais.

Não vou me alongar nas duas outras, apenas concluir (segundo Augusto), com o pensamento dos Pais Latinos: “Nas palavras de Agostinho, no Velho o Novo está subentendido e no Novo o Velho se torna Patente...Uma lição que aprendemos com os Pais Latinos, especialmente com Jerônimo é evitarmos que nossas crenças prediletas acabem por controlar nossa interpretação da Escritura. Frequentemente somos tentados a interpretar textos bíblicos de modo a concordarem com nosso pensamento. Sabemos que é impossível ler a Bíblia sem pressupostos. Nosso dever é nos assegurar de que esses pressupostos são somente aqueles exigidos pela própria Escritura.”

Como então fugir desse controle das crenças prediletas? Por duas vezes o evangelista Francescon ouviu: “"Tu não obedeceste a este meu mandamento" . O mandamento que se refere o Senhor, é sobre o batismo por imersão, a partir dessa experiência, é que Francescon passa a questionar a validade da aspersão. A questão não é o batismo, apenas uma referência ao tipo de interpretação, algo que também teve ímpeto nos vultos do passado, todos eles se dispuseram as avaliações críticas o mais importante (protestante) deles, Lutero. Para Lutero alegorias tinha um valor limitado, nem mesmo ele conseguiu fugir delas.

Segundo Augustos podemos aprender com Lutero?

“ ...a crise doutrinária que aflige a igreja evangélica brasileira nasce de uma hermenêutica defeituosa, de um sistema de interpretação que, à semelhança dos tempos antes da Reforma, procura sentidos no texto inspirado que vão além daquele pretendido pelo autor bíblico. Essa alegorização das Escrituras feita nos púlpitos de muitas igrejas evangélicas brasileiras tem contribuído para a disseminação de inúmeros erros doutrinários. À semelhança do período medieval, quando este tipo de interpretação serviu de ferramenta para legitimar biblicamente doutrinas católicas posteriormente rejeitadas pelos reformadores, a hermenêutica da alegoria tem servido no Brasil evangélico como suporte para as doutrinas as mais estranhas. As igrejas de libertação a têm utilizado para a formação de práticas como correntes de oração do tipo "trombeta de Jericó", "cajado de Moisés", e para a introdução de um "fetichismo" cristão, onde um elenco interminável de objetos � desde fitinhas roxas até copos d'água � são usados como emblemas da fé. No auge do "dente de ouro", pregadores evangélicos procuravam justificar o fenômeno a partir de textos bíblicos onde a palavra "ouro" ou "boca" estivesse presente. O "urro sagrado" (praticado em igrejas relacionadas com o movimento da "bênção de Toronto" e da "gargalhada santa") é defendido com uma alegorização de passagens bíblicas onde Deus é representado como sendo um leão.

...e o povo fica sem receber o genuíno leite espiritual da Palavra. Alimenta-se apenas das idéias criativas e da linguagem alegórica destes pregadores. Creio que o retorno a uma exegese cuidadosa do texto bíblico, à luz dos contextos históricos, da gramática e da sintaxe das línguas originais, produziria pregação expositiva das Escrituras, através da qual a igreja seria instruída, edificada, confortada e corrigida pela Palavra de Deus. Ao mesmo tempo, é preciso que se esclareça que este artigo não está defendendo que somente uma elite de eruditos, familiarizados com as línguas originais das Escrituras e com o ambiente religioso, social, histórico e político da Antigüidade, pode descobrir o verdadeiro sentido de uma passagem bíblica. Ao meu ver, na grande maioria dos casos, este sentido é evidente e claro nas próprias traduções para as línguas modernas, e está disponível a todo cristão genuíno que deseja se conformar com o sentido original, direto, e simples da passagem. Finalmente, acredito que toda aplicação das Escrituras para nossos dias (como ao final de um sermão) envolve uma certa medida de alegorização ou "espiritualização". Isto é inevitável, pois a aplicação exige que transponhamos a verdade bíblica para nossa própria situação. Mas mesmo aqui, devemos aprender com Lutero a controlar nossa aplicação pelo sentido gramático-histórico da passagem.”

Falamos de graça, nada além dela, dos efeitos dela, como resumiria Paulo: “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus.Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. “ 1 Cor. 15:9 e 10

Nosso amado Francescon trabalhou muito, outros criadores notórios de religiões, também tiveram suas qualidades, entre maiores e menores, eruditos e indoutos, a verdade consertou os erros, o Espírito Santo intercedeu, transformando a fraqueza em fortaleza, certamente com gemidos inexprimíveis. Aquele que sonda os corações, conhece também a intenção do Espírito, possibilitando que a intercessão seja de acordo a vontade de Deus.

Cristão genuínos são fáceis de encontrar, verdadeiros administradores nem tanto, pessoas que transponham somente a vontade de Deus, não a sua própria. O apóstolo Pedro escreveu: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas. Se alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se alguém serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder para todo o sempre. Amém. “ 1 Pedro 4:0 a 11

A responsabilidade de defender a graça, é imposta para corações puros, não importa o nível da intelectualidade, o apóstolo Paulo conheceu por revelação o mistério de Cristo...”Esse mistério não foi dado a conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado pelo Espírito aos santos apóstolos e profetas de Deus, a saber, que mediante o evangelho os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus. Deste me tornei ministro pelo dom da graça de Deus, a mim concedida pela operação de seu poder. Embora eu seja o menor dos menores dentre todos os santos, foi-me concedida esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo e esclarecer a todos a administração deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus, que criou todas as coisas. “ Efésios 3:5 a 9

Se Deus reduziu a nada aquilo que era, para igualar o que nunca foi, não sei qual é o motivo de tantas interpretações. A iniciativa de aproximação veio de Deus, nem todos os grandes filósofos, teólogos, historiadores, eruditos e indoutos de todas as eras, vão concordar entre si, porém para todos quanto foram chamados, Cristo é o poder de Deus e sabedoria de Deus.

Julgo estar colocando aqui minha concepção bíblica, não sei se Deus é louco, se Deus é fraco, se sou tão insignificante a ponto de não compreender, todavia, como membro de uma denominação, se quiser pertencer ao seu meio, tenho que aceitar o seu modelo de interpretação, se pertenço a Congregação, tenho que aceitar o seu “modus operandi”, isso ocorre em qualquer outro movimento, são cerca de dois mil anos de descobertas, descobertas, descobertas, e o que Deus quis dizer mesmo?? Nessa passagem o que Deus quis dizer?? Qual ferramenta seria adequada para extrair do texto sua pureza?

“Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem. “ 1 Cor.1:25

O autor de Hebreus reitera, que o alimento sólido é para os adultos, já o leite para os influenciados.

Paulo também considera o alimento sólido, para os adultos, mas diante do seu julgamento, a igreja para quem escreveu, não estava apta para suportar.

“De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? Pois quando alguém diz: "Eu sou de Paulo", e outro: "Eu sou de Apolo", não estão sendo mundanos? “ 1 Cor. 3:2 a 4

A bíblia é uma perfeita cápsula do tempo, em todo o tempo suas previsões se mantiveram atualizadas, nada foi oculto, tudo foi revelado, suas informações expõem os conceitos de Deus, os erros e acertos fazem parte dos homens. As sagradas letras nos fazem capazes e sábios, tudo aquilo nos nos leva a Cristo, também nos conduz a salvação, não existe uma fórmula tão avançada, é puramente inspiração e ensino verdadeiro, que torna todo homem apto (perfeito) e preparado.

Aquele primeiro membro da congregação, dormiu conforme foi ensinado, nosso corajoso irmão Francescon também, todos tivemos ou teremos experiências íntimas com Deus. Você mesmo tem o direito de produzir uma cápsula do tempo, escreva toda a sua conduta hoje, tudo aquilo que você acredita, com relação a doutrina divina, coloque dentro dela e guarde até um tempo determinado, se a vida correr normalmente, quando abri-la daqui alguns anos, você contemplará a situação da sua fé, o estado das suas interpretações.

Sobretudo, grandes homens mudam, enquanto a Palavra de Deus permanece eternamente.

*Uma Cápsula do tempo é um recipiente especialmente preparado para armazenar objetos ou informações com o objetivo que os mesmos possam ser encontrados pelas gerações futuras. Tal expressão começou a ser utilizada a partir de 1937, embora a idéia seja tão antiga quanto os primeiros assentamentos humanos na Mesopotâmia. (Wikipédia)

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